sábado, 5 de dezembro de 2009

Madrugada na Roosevelt



Eles, os caras armados que atiraram, provavelmente não conhecem o livro nem o blog.
Atiraram no dramaturgo que defendeu a atriz.com.br
E agora? capitão Nascimento ou renascimento reflexivo?

No meio de uma região de contrastes sociais e econômicos, artistas sensíveis estão pensando e expressando o mundo que vivemos...
Que mundo é esse?

Desigual. Antes dos artistas e dos contrastes, existe a índole. Essa é imutável. Todos podemos nos destruir e destruir o outro de várias formas ainda que não tenhamos clareza . Isso ainda pode ser negociável. O que não é negociável? O que não foi negociável?

No fundo de toda a maldade tem o medo e ele nas mãos de quem não tem nada a perder, como disse Marçal Aquino, mata. Mata sem se importar se aquele que está levando o tiro tem poesia, tem inquietações como a dele ou poderia ajudá-lo a rever o mundo. Em cinco segundos de medo os muros estão baixos, os vidros quebrados e as realidades cruzadas.

Que destino terá a bala que atravessou o dramaturgo?

Assaltar o caixa de um teatro independente(que vive de ingressos, cursos gratuítos e cerveja acessível) e atirar em artistas é mais fácil do que um prédio inteiro de classe média alta. Pode ter sido tanta coisa, necessidade de protagonismo com as próprias mãos, filha da putagem, tudo junto...

Como fazer a integração de realidades tão díspares sem a porra da meaculpa burguesa? sem "peso de consciência social" ?(BETO CARMINATTI)

O espaço na Roosevelt é uma das conquistas mais respeitáveis dos últimos tempos. Um espaço independente que dá oportunidades a muitos artistas e público de refletir a vida.
Infelizmente o espetáculo naquela madrugada do dia 5 perfurou a quarta parede tragicamente.
E o que se aprende?
O que transcende?
Meus votos de recuperação aos feridos, ao dramaturgo.
Pensemos juntos.

8 comentários:

talita disse...

adorei demais suas letras, patrícia.
texto bem pertinente. sensato. prudente.
vou repassar no meu face...
obrigada pela sensibilidade, querida.

Patricia Ermel disse...

pega no nervo.
o nosso papel de artista.
o centro da cidade.
a distância dos mundos
a maldade
o medo
a fobia
se não refletirmos
viraremos tropa de elite
isso não dá.
bjo grande.

Ama Spisso disse...

OUTRO DIA COMENTEI COM UMA FIGURA:classe média tem olhar de médio alcance...
Referia-me à esse olhar que lançamos às classes miseráveis, excluídas, ao refugo social...
Não olhamos como olham os burgueses: com a falsa compaixão da doação natalina e o asco separatista do discurso "isso é isso", que usam nos outros 364 dias do ano.
A classe média, quase em sua maioria metida à,ou,com a intelectualidade, está com o olhar perdido quando enfrenta o Refugo.
O comprometimento com a transformação das desigualdades nos falseia uma aproximação, uma compreensão das causas socias como justificativa da violência (já pré definindo que a violência está aí, neste grupo) e escrevemos textos, fazemos análises... Os mais ousados sobem o morro para o desenvolvimento do projeto social.
A classe média sabe atuar como companheiro desenvolvedor dos pobres, pretos e favelados...Mas não sabe falar preto, poucos os que emitem negro...E muito menos sabemos lidar com os nossos"defendidos" quando a pimenta está em nossa boca, quando a água bate em nossa bunda.quando a violência é contra nós...aí nós e eles somos iato.
A classe média é o silêncio ético da pobreza e insiste em vangloriar-se de seu olhar de médio alcance!
Em terra de cego quem tem um olho é rei...
Triste.
www.criatoriodecriaturas.blogspot.com

Patricia Ermel disse...

Amanda
Concordo com a sua perspectiva e acrescento que a forma de subir o morro continua com esse olhar, o que explica as Ongs, que infelizmente ocupam o lugar do Estado que preocupado com a financeirização da economia, desvia verba da saúde pra pagar juros de dívida externa. O Estado, na sua "mea culpa" libera verbas de olhos fechados e pode crer, fazem um assistencialismo pior que a igreja evangélica.

Carolina Bassi disse...

Vejo a Praça Roosevelt como uma zona de resistência ("arte / mate / marte"). A arte pra matar a violência, acabar com a desocupação dos espaços.

O que aconteceu lá, poderia ter acontecido em qualquer outro lugar - e todos estamos à mercê.

Infelizmente, o ato brutal preencheu esta noite de morte num espaço preenchido de vida, feito para vitalizar os visitantes.

Só o que consigo imaginar é que o duelo travado pela arte em prol de vitalisar o mundo, continua.

"Renovar o homem usando borboletas"

Patricia Ermel disse...

longa vida às borboletas.
tens toda a razão.
todos a mercê.
bjo

Ama Spisso disse...

Desculpe, mas, só pra instigar: todos à mercê do que ? O que é que aconteceu Lá?
Do que exatamente estamos falando?


PS: deixa me apresentar. Sou grande amiga da Talita e, por isso, li a postagem de Patricia, aí link na minha cuca com essa história de olhar para o refugosocial...metida que sou tomei a liberdade de escrever...estou achando muito interessante os comentários será que posso divulgar teu link em meu blog e no facebook, Patrícia?

Patricia Ermel disse...

Oi Ama desculpe a demora...
Estamos a mercê de sermos mortos ou assaltados por qualquer motivo em qualquer lugar.
O que aconteceu lá na Roosevelt foi uma tentativa de assalto que terminou em tiros. Os assaltantes pareciam nervosos e optaram pela bilheteria de um teatro não muito lucrativa.
Pelo perfil do que aconteceu me parece que os assaltantes eram viciados em crack.
O Mario Bortolotto que levou quatro tiros e está na UTI da Santa Casa não acreditou que isso pudesse estar acontecendo.
Pode publicar o blog sim mas ele tá meio pelado estou sem tempo de escrever.
Respondi?

bjo