segunda-feira, 15 de agosto de 2011

você



cresce dentro de mim
a cada dia.
faça sol ou faça chuva
você florece.
de noite ao descansar
você sofre suas maiores mutações.
e eu também.
fico triste e seu coraçãozinho bate.
fico preocupada enquanto você ganha pés para voar.
choro enquanto você descobre seus primeiros dedinhos.
sorrio e você se espreguiça
soluço e você se atiça.
sei que está pequenino
não sei se é menina ou menino
mas sei que é amor.

sábado, 23 de julho de 2011

muralha

queria que suas mãos pudessem sentir o outro coração que bate
mas não posso,
elas estão distantes.
queria te mostrar o calor dos meus poros
a valsa das minhas células
mas não posso,
as palavras não substituem a experiência.
queria te contar meus sonhos mais malucos pela manhã
depois de fazer amor
mas não posso,
a correspondência tem um tempo retardado e dúbio de compreensão.
queria passear com você, reviver os sentidos, encontrar poesia nos lugares mais insólitos
mas não posso
cada vez que nos falamos temos menos e menos assunto em comum.
queria que provasse novos sabores e aromas todos os dias, que ficasse surpreso com a nossa alquimia
mas não posso,
sinto só o aroma do vazio.
queria te fazer carinho antes de dormir, dizer que está tudo bem, que nada como um dia depois do outro.
mas não posso,
tenho travesseiros surdos.
queria enroscar a minha perna na sua e assistir o tempo parar em plenitude
mas não posso.
queria que sentisse a mutação do meu corpo a cada instante, revelando os mistérios da vida
mas não posso mais.

terça-feira, 5 de julho de 2011

solidão

sonhar com o voo
foi ilusão.

quando acordei
estava de cara pro abismo
e me joguei.

me joguei como a alma do suicida que acredita em super heróis
que espera que no último minuto possa ser salvo...

mas não fui.
meu corpo caía
as lágrimas queriam virar asas
e não voavam
despencavam

mesmo desmoronando tinham esperança.

a solidão rasgava por todos os lados
não tinha onde apoiar as mãos.

meu corpo batia e quebrava em cada
lembrança de ser dois.

em pedaços se desfazia
lento na gravidade mansa
que se sente depois da guerra
depois da catástrofe.


não teve vento
não teve mitologia
não teve alegoria
não teve história
não teve passe
não teve enlace


não teve jeito.

não teve fim.

mas terá.

sábado, 4 de junho de 2011

perdas

tem dias que você se leva embora. vai. vai sentindo, vai levando.
e cai aos poucos em vários lugares, se espalhando entre os acontecimentos.
se mistura a idéias, se dissolve em uma paixão.
levada pelo excesso
você se torna uma verdadeira presa.
te tiram aquilo que você contava pra passar seus aéreos dias .
tiraram o seu chão de vento e te deram um solo árido.
você assiste a cadeia alimentar da injustiça no seu país operar perfeitamente.
de fora pra dentro você tomba, de dentro pra fora você silencia. vai levando...
mas dessa vez não é levada.
você se eleva para se ver.
você esteve morta.
sendo assim,
você recomeça.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

fora do tempo

tiraram o chão do tempo
ou o tempo do vão
sem saber sem ver
o caminhão
o trem
de lágrimas embutidas
que passaram distraídas pelo meu corpo
não sofri.
não senti fora.
elas choravam no osso
entrelaçadas em estradas
amontoadas em camadas
até o pescoço.
navego agora solta
desmebrada no espaço
não sinto o vento
mas um movimento que me leva.
não sinto o cansaço da memória que as mágoas tem.
estou fora do frasco
respirando o estilhaço do meu novo aroma
zen.