sábado, 23 de julho de 2011

muralha

queria que suas mãos pudessem sentir o outro coração que bate
mas não posso,
elas estão distantes.
queria te mostrar o calor dos meus poros
a valsa das minhas células
mas não posso,
as palavras não substituem a experiência.
queria te contar meus sonhos mais malucos pela manhã
depois de fazer amor
mas não posso,
a correspondência tem um tempo retardado e dúbio de compreensão.
queria passear com você, reviver os sentidos, encontrar poesia nos lugares mais insólitos
mas não posso
cada vez que nos falamos temos menos e menos assunto em comum.
queria que provasse novos sabores e aromas todos os dias, que ficasse surpreso com a nossa alquimia
mas não posso,
sinto só o aroma do vazio.
queria te fazer carinho antes de dormir, dizer que está tudo bem, que nada como um dia depois do outro.
mas não posso,
tenho travesseiros surdos.
queria enroscar a minha perna na sua e assistir o tempo parar em plenitude
mas não posso.
queria que sentisse a mutação do meu corpo a cada instante, revelando os mistérios da vida
mas não posso mais.

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